segunda-feira, 23 de setembro de 2013

A dificuldade do desapego


Acabei de me mudar e estou tendo que me desfazer de várias coisas. Vou morar num apartamento e sabemos que apartamentos não possuem muito espaço para coisas "desnecessárias". Acontece que essas coisas ditas "desnecessárias" são meus pequenos tesouros, que sempre ficaram guardados no sótão da casa dos meus pais, mas como eles também se mudaram, não terei onde guardar.

Parece que quando nos desfazemos de certas coisas, uma parte também vai embora. Parece que aquela coisa era o último elo com um tempo que já passou faz tempo e nunca mais voltar. A impressão que tenho é que esse período ficará esquecido.
Ao longo da minha vida já me desfiz de muitas coisas e doei para quem necessitava. Certamente fizeram crianças felizes. Muito mais do que ficarem guardados em um sótão.
Para ser mais específica me refiro aos meus precisos tesouros que são as coisas da Barbie que ganhei ao longo da minha infância. Você pode estar achando um absurdo eu ter guardado essas coisas até hoje, mas para mim não era. Eu achava que um dia poderia ter uma filha e ela pudesse se interessar pelas relíquias da mãe. Mas o principal foi a dificuldade que essas coisas todas foram compradas para mim. Afinal, nunca foi barato. Nem a 20 anos atrás e muito menos hoje.


Lembro do dia em que ganhei minha primeira boneca Barbie. Eu morava em Itu no interior de São Paulo. E não se achava a boneca em lugar algum. Eu já tinha uma Susie, mas queria a Barbie. Meu pai foi até Sorocaba comigo para procurar a tal boneca. Lembro que fomos a uma loja grande brinquedos e tinha um mundo de coisas lá. Foi a primeira vez que vi a casa da Barbie, aquela que tinha um elevador. Eu tinha quase 4 anos. Fiquei encantada e queria aquela casa! Afinal, ela era praticamente do meu tamanho e ficaria linda no meu quarto. Mas havia um problema: o preço. Era cara demais. Resultado: saí da loja de brinquedos apenas com a boneca, o que para mim foi uma alegria enorme. Afinal, apesar da pouca idade eu havia visto o esforço dos meus pais indo para outra cidade apenas para comprar uma boneca para mim. A partir daquele dia eu tomei uma decisão: iria cuidar com o máximo de carinho da minha preciosa boneca.
E foi o que fiz. Não só da boneca, como do marido dela e das coisas que ganhei posteriormente.


Mexendo em todas essas coisas lembrei das tardes que passava com as minhas amigas e primas brincando de boneca. Levávamos mais tempo para arrumar e desarrumar tudo do que propriamente brincando. E quando viajávamos? Claro que levávamos tudo e mais um pouco. Onde íamos, as bonecas iam junto. Certa vez fizemos uma viagem ao Rio de Janeiro e eu e minhas primas levamos sacolas imensas cheias de coisas: bonecas, cama, banheiro, roupas, sapatos, tudo!!! Montamos uma "casa" atras da cortina da sala de estar no nosso quarto de hotel para brincar. Vai tentar explicar aos nossos pais a necessidade de levar aquilo tudo! A sorte é que fomos de carro. Imagina levar aquilo tudo no avião?
Então depois de tanto anos eu resolvi fazer outras crianças felizes, assim como um dia eu também fui. Decidi doar os brinquedos para uma Instituição de Amparo à Criança (Asas Brancas) que fica no Município de Taboão da Serra. Acho que todos esses brinquedos terão mais utilidade nas mãos de crianças do que guardados em caixas num sótão. Depois eu fiquei pensando: E se minha filha nem se interessar por isso? E se eu não tiver uma filha? Hoje em dia as crianças andam tão tecnológicas que eu tenho minhas dúvidas se elas sabem brincar com coisas palpáveis ao invés de jogos de computador.. rs (por favor pais e mães não me entendam mal).
Já separei tudo e levarei ainda essa semana. Espero que as crianças gostem. Espero que sorriam tanto quando eu sorria quando ganhava alguma coisa nova.
E principalmente, espero que cuidem tão bem dos meus tesouros como eu cuidei até hoje, nesses mais de 25 anos.

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